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  Abro e fecho a boca: falta-me ar! Abro a boca de novo e um fiozinho de água entra por ela, sinto alívio por um segundo mas logo torno a ficar zonzo: não consigo respirar. Meu corpo inteiro luta por um pouco de oxigênio, bastaria-me uma inspiração para trazer alívio ao desespero. Balanço ridiculamente em epilepsia frenética de afogado, cada pedacinho de mim queima implorando por mais um fio d'água... só mais um. 

  Mas é tanta lama, tanta lama! Ela entope-me a boca e as brânquias e me sufoca sem piedade. Não quero morrer nesse lugar insalubre e escuro, fede esgoto aqui. Preferia mil vezes morrer ao sol, morrer em terra... morrer pelas mãos da natureza. Mas isso? Isso não é natureza, não é natural, esse lugar nojento e fedido não estava aqui ontem, não existia, mas na certa agora existirá por dezenas de gerações. Bom, não as minhas gerações, pois sou criança e não consigo respirar. Tenho a boca cheia dessa lama nojenta! 

  É triste que eu não consiga ver o sol, é triste que eu tenha que morrer no escuro. Meu corpo já não  se sacode mais, parece que ele já entendeu que vai morrer. Mas ainda assim castiga-me, implora um pouco d'água. Tem lama na minha boca, nas minhas brânquias, dentro de mim. Sinto essa coisa suja apertando meu coração, e como doem essas garras nojentas! 

  Como dói essa vida perdida! 

  Morre mais um peixe em Mariana.

Último suspiro

Parabéns! Sua mensagem foi recebida.

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