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Velhos amigos

As pessoas mudam. Essa é uma das únicas certezas que eu levo comigo. As pessoas mudam. Eu tento não perder isso de vista quando penso conhecer alguém. Tento não esquecer desse detalhe quando sorrio com meus amigos, quando acredito em uma promessa de ''para sempre'', quando confio, quando escolho não confiar.  

 

As pessoas mudam. Elas mudam o jeito de olhar. Isso pode ser bom, ou não. Olhar de irmão, de amigo, de conhecido, de amor, de desgosto... olhares mudam. Isso não significa que perdemos amigos, ou que os ganhamos: significa que nunca os tivemos. As mudanças são tão rápidas que apenas conhecemos as pessoas pelo período de um suspiro, depois não as conhecemos mais. Mas isso é bom. Significa que temos que cuidar sempre de reinventar nossas amizades, reconhecer nossos amigos, dificuldade agrega valor.  

 

As pessoas mudam, e isso significa que elas se vão. Seja por vontade própria ou por motivo maior, a única certeza que temos é que as pessoas se vão. Quantos desconhecidos passam por nós e olhamos e pensamos: "um dia ele foi meu maior confidente, um dia ele conheceu a minha alma", mas olhamos para os pés, incertos se devemos cumprimentar? 

 

As amizades de infância não são menos válidas que as de hoje porque aqueles amigos se foram. Elas são muito importantes: fizeram de você quem você é. O que vale mais, uma amizade de dez anos ou de dez minutos? Não devemos agregar valor ao tempo: as pessoas são maravilhosas, únicas e atemporais, e elas se vão com um suspiro.  

 

As pessoas mudam. Nós somos pessoas, então mudaremos também. Alguns entenderão, alguns mudarão de forma convergente, outros não. Por isso alguns ficam e alguns vão, devemos sempre procurar companhias agradáveis aos nossos gostos, e não podemos guardar mágoas quando deixamos de reconhecer alguém.  

 

As vezes colocamos a história na frente dos fatos e nos agarramos a amigos que já não conhecemos mais, e aí nos machucamos, machucamos os outros. Momentos são preciosos de mais para serem perdidos, por isso devem ser apreciados e depois guardados, mas nunca tente reproduzir um momento: as pessoas mudam, ele nunca mais será o mesmo.  

 

Talvez a lição do texto seja tirar o máximo de proveito, colecionar o máximo de lembranças que puder, "que não seja imortal posto que é chama/ mas que seja infinito enquanto dure" ou talvez seja não se apegar de mais "a gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele". A verdade é que eu não sei.  

Uma vez li que "não precisamos trocar de amigos se compreendermos que os amigos mudam", e acreditar nisso me parece poeticamente reconfortante.  

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