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Aquele quentinho chamado felicidade

As pessoas falam de autoconhecimento ligando-o à felicidade de uma forma que eu sempre achei ridícula. O ser humano mente para si mesmo com a mesma frequência que respira... por que felicidade estaria ligada com uma coisa tão inalcançável? E mais... felicidade é uma sensação de momento... no intervalo de uma batida de coração se está feliz, e depois não se está mais, da mesma forma o inverso é verdadeiro, então como estaria ligada a uma condição tão delongada e trabalhosa? Mas hoje eu percebi... eu finalmente entendi o que essas pessoas quiseram dizer. 

Talvez tenha sido uma escolha de palavras infeliz, ou talvez eu simplesmente não tenha interpretado corretamente, mas felicidade não está no autoconhecimento, mas sim na busca por ele. E mais: essa dita felicidade não é aquela situação deliciosa onde aquilo que é o foco da sua atenção te faz feliz. Não, a felicidade a que eu me refiro é outra coisa, talvez tenha até outro nome. Esta é aquela que mesmo quando estamos tristes, preocupados, desesperados até, sentimos aquele quentinho no fundo do coração, aquela certeza que por mais que as coisas não estejam certas agora, elas ficarão, porque estamos exatamente onde deveríamos estar, por que não nos arrependemos das decisões que nos levaram aquela situação . Essas certezas não aliviam a dor que estamos sentindo, mas torna-a justificável, e dá-nos força para lutar. 

E esse quentinho não se encontra em um abraço, em um amigo, na família, nas situações externas... esse quentinho vem de dentro, daí o link com autoconhecimento. Só que o que eu demorei para perceber foi que esse quentinho não está em conhecer-se, está em permitir conhecer-se. Acho que fui confusa, então vou dar um exemplo:  

Há um ano e meio atrás eu estava no cursinho, tinha amigos maravilhosos e uma família que me apoiava incondicionalmente. Eu estudava o dia inteiro para entrar no curso que tinha escolhido: medicina. Mas o detalhe é: eu não queria ser médica, nunca quis. Dizia a mim mesma que o que eu queria era o conhecimento... entender como o corpo funciona... eu provavelmente ficaria na área de pesquisa. Talvez eu tenha escolhido isso para me por a prova, para mostrar que eu era tão inteligente como o resto da família... ou talvez eu quisesse uma desculpa para não passar... eu sinceramente não sei. Eu não era feliz.  

Um dia mandei tudo aquilo à merda. Eu brinquei que 'burra como eu era, nunca entraria na medicina, e ia acabar fazendo biologia ou algo do tipo'. No momento que as palavras saíram da minha boca eu percebi quão desesperadamente eu queria que aquilo acontecesse, em uma piada de mal gosto eu tive que encarar aquilo que eu vinha escondendo de mim, que eu sabia há muito tempo: eu não queria medicina, nunca quis. Nos próximos três dias eu não conseguia estudar, nem ser agradável para os meus amigos e família, as pessoas perguntavam o que estava acontecendo e eu dizia que estava cansada, mas a verdade é que eu havia encarado a medusa que evitei por muito tempo, e agora não conseguia mais me mexer.  

Então eu admiti ao meu melhor amigo. Ele queria medicina também e imaginou que a minha súbita mudança era medo de outro ano de cursinho, naturalmente ele expressou sua preocupação e disse que me apoiaria incondicionalmente. Passaram-se mais alguns dias até eu contar para os meus pais, eles ficaram radiantes com a minha nova decisão: nunca me viram como médica e biologia era tão mais a minha cara! 

Eu continuava no cursinho, tinha amigos maravilhosos e uma família que me apoiava incondicionalmente. Eu estudava o dia inteiro para entrar no curso que tinha escolhido: biologia. Eu era feliz. 

No começo do ano eu comecei a frequentar o meu curso. Eu tinha matérias maçantes e professores de todos os tipos, eu encontrei pessoas das mais diversas opiniões e conheci mentes incríveis (a maioria dessas hoje tenho o prazer de chamar de "amigo") Eu estudei e raramente fui recompensada com notas que expusessem meu esforço, eu chorei, eu aprendi. Hoje estou concluindo o primeiro ano do meu curso, tive altos e baixos, gargalhadas espontâneas e lágrimas densas, mas nunca dúvida. Eu estou exatamente onde deveria estar e isso me faz plenamente feliz. 

Mas é ainda mais que isso... essa felicidade deliciosa e constante que me acompanha diariamente vem da busca por conhecimento, da promessa de parar de ter medo da medusa que fica no cantinho do olho. É preciso não ter medo de seguir em frente. Hoje eu estou realizada onde eu estou, mas e se amanhã eu não estiver? Eu gosto de pensar que estou pronta para fazer as malas e procurar o lugar que eu deveria estar, de ir sem olhar para trás, mas guardando os bons momentos no coração, apreciando sua validade. 

É claro que isso nem sempre é fácil. Buscar autoconhecimento significa procurar conhecer-se, enfrentar seus demônios, tentar ser sincero consigo mesmo. Acredito que todos nós sabemos quão difícil é sair da nossa zona de conforto, mas se você me permite, gostaria de dar esse conselho, essa uma dica que demorei tanto tempo para interiorizar (ainda em processo, por sinal): saia da sua zona de conforto e busque conhecer-se, arrisque-se, tente. Pare de buscar por felicidade e comece a buscar por você. 

Parabéns! Sua mensagem foi recebida.

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